Energia de mãe!
As pegadas na areia sempre a levavam para um mesmo cantinho daquele cenário de pura imaginação. Era ali, naquele pedacinho de céu, que Maria Fernanda passava bons momentos da sua inquietante infância. Sapeca, ela criava inúmeras situações para viver de maneira intensa a experiência que jamais conseguiu.
Com os olhos cor de mel, a menina de apenas oito anos sabia aproveitar a generosidade da natureza e, claro, fazia da beleza do local um solo fértil para sua criatividade. Como toda garota de sua idade, ela tinha intimidade com os eletrônicos, todavia não deixava o seu tempo se consumir, simplesmente, com eles.
Maria Fernanda sentia a brisa do mar balançar seus cabelos anelados e deixava que a sua mente vagasse pelos mais curiosos e também emocionantes caminhos. Assim, a menina não tinha a certeza, mas sentia forte sensação de que sua intenção caminhava para o endereço certo.
Dos olhos da menina, virava e mexia, uma lágrima rolava. Parecia que Maria Fernanda estava sempre preparando alguma coisa importante para uma pessoa muito especial. Seu reflexo no espelho não deixava dúvida para uma observadora zelosa, cuidadosa e amorosa.
Sem a companhia de amigos, Maria Fernanda só podia contar com os parceiros imaginários. Esses eram muitos! Cada qual com nome pra lá de doido. Um deles, por exemplo, atendia por Orozimbo! É isso mesmo! O-ro-zim-bo! A gargalhada da Nanda dobrava ao ouvir a pronúncia separada por sílabas. Era um sorriso gostoso, doce.
No interior da cabana feita por folhas de coqueiros havia duas cadeiras, onde Maria Fernanda costumava rezar e conversar com alguém íntimo. Entre as orações, lágrimas chegavam ao final daquela face morena, angelical e linda. Um lenço branco as amparava; embora não houvesse mais ninguém no local, onde o silêncio era quebrado pelo som das ondas da praia.
A luz do sol de outono tornava a tarde bonita. Era difícil tomar a iniciativa de voltar à casa dos avôs. Além do ambiente maravilhoso, Maria Fernanda não queria que a conversa com aquela pessoa tão amada chegasse ao fim. Os minutos iam se passando, e a garota sorria, sorria, sorria…
Abraçada, aparentemente, ao vento, Maria Fernanda começou a ouvir:
“Fecho os olhos pra não ver passar o tempo. Sinto falta de você, Anjo bom, amor perfeito no meu peito. Sem você você não sei viver.”
Ao longe, dona Laura, avó de Maria Fernanda, acompanhava a cena e, claro, chorava. Com um abraço de urso, dona Laura recebeu a neta Maria Fernanda. Chorando, a menina disse: “Vó, eu pude dizer parabéns para a minha mãe! Ela me ouviu, me abraçou forte, me beijou, cantou pra mim, vó! Hoje é o dia mais feliz da minha vida!!!”
A mãe da menina, Fernanda Soares, faleceu aos 28 anos durante o parto, vítima de uma crise hipertensiva. A gestação de Maria Fernanda aconteceu num clima de muita harmonia familiar. Desde o seu nascimento, dona Laura acompanha a interação entre a garota dos olhos cor de mel e a energia da mãe.
A vida é muito mais que um abrir e fechar de olhos.
A vida é assim.
Parabéns, mãe.
Feliz Dia das Mães!
Crônica: Fernando Fraga